8h30 am.
Acordo com o telefone tocando. Minha irmã:
-Ahhh! Você não sabeeeee! Estou indo trabalhar e aqui na rua de trás de casa tem um cachorrinho bem pequeno deitado na chuva! Coitado! Que dó, que dó, que dóó!!
Levanto-me. Não escovo os dentes, não ponho calcinha. Ponho a roupa de ontem e corro. Ao virar a esquina ouço um rosnado. Era ele. Minúsculo, embaixo de um carro tentando se proteger do temporal. Tentei me aproximar, mas ele não gostou muito. Voltei pra casa, peguei um petisco e uma toalha. Voltei à batalha. Rosnados de novo. Joguei uns petiscos pra mostrar que eu era do bem. Os vizinhos aproximaram-se tentando ajudar. Trouxeram pão, biscoito de nata para dar pra ele. Consegui tirá-lo de lá depois de uns 25 ou 30 minutos de tentativa.
Trouxe pra casa. Meu labrador sentiu o cheiro e queria comê-lo. Cuidei dele o dia todo. Ração, água, brinquedo, casinha, cobertor. Anúncio na internet para procurar o dono ou um pai adotivo para que não vire sobremesa do Apolo.
Parei e pensei:
Acabo de colocar um ser, desconhecido, sujo e com possíveis doenças dentro da minha casa. Dei comida, água, cobertor... O abriguei. Bela atitude. Mas peraí. Eu faria isso por uma pessoa? Um mendigo, morador de rua, com frio e fome na chuva? Eu o colocaria na minha casa, daria um cobertor e comida? Daria um dia inteiro de atenção pra ele? Não. Com certeza, quase ninguém. Por alguns instantes me senti mal por isso.
Parei e pensei de novo. Por quê? Por que um cachorro sim e uma pessoa não? Claro! Me senti menos pior por uns instantes. Cheguei a uma conclusão. Não sei se correta, mas foi o que eu encontrei.
O mesmo ser que tem esse lado caridoso de acolher, tem o lado malicioso e aproveitador. Temos que admitir que o ser humano tem o grande defeito de sempre querer tirar vantagem para si próprio de tudo! Quem me garante que o morador de rua não ia entrar na minha casa, pegar minhas coisas, roubar, estuprar. Sei lá. Preconceito? Não! Não é por ser mendigo! Não colocaria o mais lindo e rico homem da cidade dentro da minha casa. Nós não confiamos em seres da nossa própria espécie, pois sabemos do que somos capazes!
Apelidei-o de Dumbo, pelo tamanho de suas orelhas. Ele se deita aos meus pés cada vez que vou vê-lo, pedindo carinho. Me acompanha na chuva quando preciso ir limpar a sujeira dele. Está extremamente feliz com uma caixinha de papelão com um cobertor no quintal. Está totalmente GRATO!
Está saudável, bem tratado. Provavelmente foi deixado na rua por alguém. Um ser da mesma espécie que eu, que o tirei da rua. Os dois lados de uma mesma criatura.
P.S.: Procura-se dono ou novo lar! Interessados?
Estou a procura de um cão para chamar de meu
ResponderExcluirOnde vc mora ???
Jundiaí-SP e você?
ExcluirNão tem comparação, em cachorro eu confio, no ser humano nem tanto... rs
ResponderExcluirBeoijocas
Nem vi o labrador e já achei esse mais bonito.
ResponderExcluirAconteceu o mesmo comigo! A "Onça" (nome com o qual a batizei) veio para ficar provisoriamente e já está conosco há 5 meses.
ResponderExcluirHá mais um detalhe na relação cachorro / humano: eles são, na média, menores, mais fracos e desprovidos de instrumentos para amplificar a própria força. Nós, além de termos essas vantagens, contamos com o caráter - muitas vezes silenciado. O ser humano é mal por natureza.
Não desmerecendo a relação entre humanos que, afinal, é a base do ser de cada um, mas acredito que a convívio com animais no ajuda a experienciar melhor o que é bondade, simplicidade e coletividade.