quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Bad Trip
Bastou 5 segundos depois de soltar o ar para começar a sentir de um jeito que eu nunca havia sentido antes. O Thi falava olhando pra mim, mas minha concentração parecia estar enfraquecida, frágil. Olhava para ele mas conseguia me concentrar apenas por alguns instantes. Minha mente fugia. Era como se estivesse sendo puxada com força para outro lugar e, por mais que eu me esforçasse, era impossível de impedir. Não havia energia elétrica. Odeio o escuro. Acho que isso agravou a situação
Sentei e respirei fundo! Não estava entendendo! O escuro me confundia ainda mais. Tudo se transformava numa tontura que logo virava uma perda de pensamentos de novo. Sai do quarto, lavei o rosto, e procurei ficar perto de alguém. O Thi perguntava se estava tudo bem e eu respondia involutariamente que 'não'. Só me dava conta do que tinha falado depois. A boca trabalhava mais rápido do que a mente pela primeira vez na vida. Mas isso não queria dizer que a mente trabalhava de forma lenta. Pelo contrário. Trabalhava de modo tão acelerado que era impossível acompanhar.
Fomos andando pelo condomínio e o Thi e o Langue andavam abraçados a mim. Comecei a perceber que aquela sensação não passava e aquilo me levou a uma espécie de crise de pânico. Perguntava a eles se aquilo ia passar. O que aconteceria se aquilo fosse permanente e, por pior que eles estivessem, tentavam me fazer curtir aquilo. Mas era impossível!
Parecia que tudo era um sonho daqueles que você sabe que está dormindo, mas não consegue acordar. Procurava fixar os pensamentos em alguma coisa, na ânsia de não perdê-los novamente mas, bastavam segundos para que eles fossem puxados de novo!
Aquilo não me dava prazer algum. Pelo contrário: começou a me dar cada vez mais desespero. Pensava REALMENTE na possibilidade de aquilo ser eterno e isso descontrolou ainda mais a situação.
Do desespero, surgiu um choro. Já estava ciente de que ia precisar de ajuda médica pois aquela sensação não queria ir embora. Sentia que precisava de luz para que pudesse voltar ao normal. Chorava no ombro do Langue, enquanto andava pela rua molhada pela chuva que acabara de terminar. Ele me dava forças e afirmava com toda a certeza do mundo que aquilo ia passar logo. Mas não acreditei. Sentia-me como uma paciente em estado terminal onde o médico não iria dizer: "Você tem apenas 3 minutos de vida" por pura pena.
Após o choro, me veio uma enorme vontade de rir. Isso parece ter tranquilizado meus amigos, como se estivessem tensos pela minha tristeza. Ri tanto que perdi o ar inúmeras vezes em cerca de 2 minutos. Junto comigo, os meninos pareciam absorver meus sentimentos.
A caminhada que, na ida, havia durado 5 minutos parecia estar se prolongando por horas... Olhava para frente e parecia que estávamos chegando de onde havíamos acabado de sair, como se tivéssemos dado uma enorme volta.
Ao chegar no Dan de novo, ainda não havia passado. Não conseguia controlar minha cabeça. Era como se ela tivesse vontade própria. E, mais uma vez, o desespero aumentava.
O Langue ainda não havia me soltado. Ainda chorava um pouco. Um cara que eu nunca havia visto em toda a minha vida parece ter adivinhado o que eu estava sentindo e falava tudo que eu precisava ouvir. Dizia que eu precisava ser mais forte que aquilo! Que eu não podia deixar aquilo me dominar. E quanto mais ele falava, mais ficava tranquila. Respirava fundo, enxugava as lágrimas com a mão enquanto a outra era segurada com força por ele. O chamavam de 'Preto'. Nunca vi mais gordo. Mas parecia que ele já havia sentido exatamente igual, e isso me deixou mais calma.
A Mary chegou perto de mim e tentou me acalmar mesmo sem saber o motivo pelo qual eu estava daquele jeito. Me colocou deitada e, apesar de eu ter certeza que ela nunca havia passado por aquilo, a voz dela me tranquilizava também.
Minha mente ainda não voltara ao normal. Era certo: nunca mais eu ia voltar 'daquilo'.
Havia dois grupos de pessoas tocando e cantando músicas distintas ao mesmo tempo. O som de cada uma delas entrava na minha mente e parecia que eu podia sobrepor os sons. Não exatamente sobrepor, mas as palavra para descrever algumas sensações ainda não foram inventadas. O barulho me irritava e ao mesmo tempo eu gostava. Estava no colo da Mary que já sabia realmente o que havia acontecido e me fazia cafuné. Muitas pessoas se aproximavam e eu não sabia se estava mais confortável deitada ou sentada. Mudei de posição diversas vezes. Minha pressão parecia ter baixado. Suava frio.
A Alice e o Doido se aproximaram preocupados.
A Nina verificou meus batimentos cardíacos que eu podia sentir que estavam aceleradíssimos e tentou me distrair também!
Eu sentia que precisava de luz! A lanterna do celular da Mary ajudou um pouco, mas não era suficiente.
Não sabia responder às pessoas o que eu estava sentindo. Não havia palavras para aquilo. Entre acessos de choro alternados com gargalhadas, as pessoas ficavam cada vez mais confusas.
Parecia que estava em outra dimensão. Milhares de situações da minha vida passavam diante dos meus olhos e eu revia conceitos, amizades, ideias, pensamentos. Me perguntava porque eu fazia aquilo. Sentimentos de amor, ódio, amizade, tristeza, loucura eram mixados de forma indescritível. Todos juntos em dosagens homeopáticas.
O Preto, na tentativa de me distrair começou a conversar comigo. O que ele falava entrava na minha cabeça de uma forma que me assustava. Qualquer coisa que ele dizia era reproduzido de forma alucinante. Como se eu fizesse um filme no ar. Conseguia ver de tão consistente que era meu pensamento. Era como seu eu entrasse em transe e só fosse despertada quando alguém chamava a minha atenção.
Ao despertar uma dessas vezes, olho para cima e vejo, embaixo do guarda sol no qual eu estava, pontos verdes fluorescentes. Pensei que, se ao esfregar os olhos, continuasse vendo, era a comprovação da eternidade daquilo. Dito e feito. Continuei com os olhos fixos nos pontos esperando que sumissem. Perguntei se só eu estava vendo aquilo com MUITO medo da resposta. Para minha tranquilidade, eu não era a única. Era um inseto.
Mais uma crise de risos. Comunitária, porém puxada por mim.
Sentia muito sono. Tinha medo do que pudesse acontecer caso eu dormisse. Tentei, mas não consegui.
Nesse momento parecia que já estava daquele jeito há horas. Segundo fontes das quais não em recordo, haviam se passado 20 minutos.
Deitada por mais um tempo com pensamentos a mil. A sensação foi passando. Fui sentindo o maior alívio que já havia sentido em toda a minha vida.
Fui dormir com a mente ainda comprometida.
Ao acordar, senti medo de novo. Parecia que ainda estava com a mesma sensação que estava ao ir dormir. 'Ressaca' segundo fontes experientes no assunto.
Todos sairam e eu queria dormir de novo. Tive uma oferta irrecusável de uma cama por mais um tempo e uma companhia na hora em que eu acordasse.
Depois de duas horas de mais sono, fui acordada delicadamente e distraída com uma conversa rápida.
Amanhã estarei de volta... As viagens de feriado sempre terminam no domingo.
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nossa! que tenso!
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