segunda-feira, 5 de julho de 2010

A vida de uma garrafa pet

Mal acabo de nascer, já aparecem várias pessoas uniformizadas que começam a me transportar de um lado para o outro. Me colocam numa esteira que me leva em direção a uma máquina grande. Ao entrar, me fazem engolir rapidamente dois litros de um líquido estranho. Tem a cor preta, cheio de bolinhas de gas. Não posso reclamar... até que o gosto me agrada. Sem entender nada e, agora de barriga e boca cheia, não consigo reclamar ou questionar. Ou, quando acho que vou conseguir, a máquina lacra minha boca com uma tampinha vermelha. Acho que não querem me ver falando.

Sigo na esteira, até o final. Sem perceber, estou vestida. Me colocaram uma éspecie de vestido vermelho. Foi tão rápido que nem percebi.

Mais a frente, encontro várias companheiras. Todas vestidas como eu. Posso notar que as fizeram tomar aquele líquido preto estranho também. Estão todas cheias.
Nos separam em grupos, e passam um plástico por todas nós juntas! Ainda bem... já estava começando a ficar com medo. Pelo menos assim eu tinha com quem conversar.
As minhas companheiras de grupo me disseram que nós viajaríamos.

Nos colocam em um caminhão, no qual permanecemos por vários dias. Acabo adormecendo.
Acordo com a luz do dia. O moço do caminhão havia aberto as portas. Acho que tinhamos chegado.

Nos tiram sem nenhum cuidado de onde estávamos. Minhas companheiras todas não paravam de reclamar. Eu permanecia em silêncio! Tinha medo.

Nos colocam em algumas prateleiras em um lugar grande. As meninas que viajaram comigo disseram ter ouvido que se chamava "Supermercado". Não me incomodei. Sentei-me na prateleira. Incrivelmente, não consegui ficar lá nem por alguns minutos. Logo me tiraram de lá e me levaram para passear de novo. Dessa vez numa caixa de ferro, com 4 rodinhas embaixo. Lá dentro, conheci amigos de especies diferentes. Papel higiênico, frutas, verduras, materias de limpeza... Gostei deles. Todos muito simpáticos.

Logo me vi em uma esteira novamente. Tive medo de estar perto daquela máquina gigante de novo. Mas não. Toda vez que um habitante daquela caixa de ferro com rodinhas passava pela esteira, um som estranho surgia. Uma espécie de apito. Não parecia ameaçador.

Nos colocaram em saquinhos plásticos e, logo depois, na parte de trás de outra máquina de ferro com 4 rodas. Essa eu sabia que se chamava 'carro'.

Adormeci novamente. Acordei dentro de um lugar gelado. Com vários amigos que fiz na caixa de ferro naquele tal de "Supermercado".

Em uma semana, tiravam a tampa da minha boca, e tiravam o líquido preto de dentro de mim. O líquido acabou muito rápido. Me jogaram na rua, vazia. Virei mendiga...

Bem nesse dia choveu! Nadei pela cidade até ficar presa num bueiro. Eu e vários dos meus amigos do mercado estavamos presos lá. A água não entrava. Em pouco tempo, a rua inteira estava alagada.

Estava com medo. Não tinha o que fazer.
Com apenas alguns meses de vida, eu morri.

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